Transição
No dia em completou 53 anos, a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – fundada em 1968 e estadualizada em 1987- iniciou uma nova fase de sua história no que diz respeito ao processo participativo e democrático da comunidade acadêmica, como também do ponto de vista administrativo e financeiro. Na noite desta terça-feira, durante a Assembleia Geral universitária, a governadora Fátima Bezerra sancionou a Lei Estadual Nº 10.998/21, que torna soberana a vontade da comunidade acadêmica e extingue a lista tríplice. No evento que marcou a posse da reitora Cicília Maia e do vice-reitor Francisco Dantas, a gestora anunciou o envio à Assembleia Legislativa do Projeto de Lei (PL) que trata da autonomia financeira e administrativa da instituição, iniciativa esta que vai permitir que a Universidade receba, mensalmente, um duodécimo para cobrir suas despesas, à exemplo do que já acontece com os poderes Legislativo e Judiciário.
Chanceler da UERN e professora da rede pública de ensino, Fátima não somente respeitou o desejo expresso nas urnas pela comunidade acadêmica, que elegeu Cicília e Francisco em eleições diretas realizadas de forma virtual no dia 10 de maio, como propôs enquanto chefe do Executivo estadual o projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa, que encerra de vez a chamada lista tríplice. Ela agradeceu à deputada estadual Isolda Dantas, relatora do projeto, e a Franciso do PT, pelo empenho e articulação da matéria na AL, e ainda solicitou o apoio incondicional da bancada presente ao evento para aprovar o projeto de autonomia universitária, que muito em breve será enviado para apreciação e votação pelos parlamentares. Estavam presentes à ocasião, além de Isolda, que compôs a mesa, os deputados estaduais Bernardo Amorim e George Soares.
“A defesa intransigente da gestão democrática é uma das marcas do nosso Governo, respeitando a vontade soberana da comunidade acadêmica da UERN, formada por docentes, discentes e servidores, que elegeu a Chapa Somos UERN para gerir essa importante instituição de ensino superior, pelos próximos quatro anos”, declarou a gestora, na solenidade realizada no Teatro Municipal Dix-Huit Rosado, em Mossoró. “Essa noite seguramente ficará marcada na minha memória. Lista tríplice nunca mais! Vida longa à UERN. Viva Paulo Freire. Viva a democracia!”, comemorou, referindo-se ainda ao principal homenageado da solenidade, o patrono da Educação brasileira, educador Paulo Freire, que neste mês do seu centenário de nascimento recebeu “post mortem” o título de Doutor Honoris Causa da UERN.
Fátima apontou que o governo estadual segue na mesma base democrática e está desde meados do mês de abril em diálogo com a Associação dos Docentes (Aduern) o Sindicato dos Técnicos Administrativos (Sintaurern) no propósito de juntos construírem o Plano de Carreiras, Cargos e Salários para o corpo funcional da Universidade, uma vez que o plano vigente é de 1989 e já se encontra totalmente defasado. “Este evento representa um marco, que se compara ao momento histórico de 1987 quando a instituição foi estadualizada, luta na época liderada pelo querido Padre Sátiro Dantas [ex-reitor]. Hoje está passando um filme na minha cabeça pelo fato de que a Uern caminha para a conquistar a sua autonomia financeira. Enquanto professora e militante, sempre defendo esta importante instituição e repito, parem de dizer que investir em universidade é um atraso, parem de querer privatizar a Uern”, reforçou.
Ao se referir à instituição como importante vetor de desenvolvimento econômico e de inclusão social para o Rio Grande do Norte, tendo criado sistema de cotas para estudantes oriundos das escolas públicas em 2004, oito anos antes da lei federal, a governadora reforçou que a Uern é um grande exemplo de interiorização do ensino superior, que garante políticas de assistência estudantil para permanência dos filhos e das filhas dos trabalhadores e trabalhadoras do estado, muitos dos quais são os primeiros a obter um diploma de curso superior na família. “Tão logo assumimos o governo em 2019, incluímos a Universidade como beneficiária do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop), possibilitando a ampliação da assistência estudantil. A previsão é de que até 2023 a Universidade receba R$ 10,8 milhões de reais deste Fundo”, citou.
Ela destacou que na condição de Senadora, em 2018, integrou a bancada federal que liberou investimentos na ordem de R$ 20 milhões, destinados a obras e melhorias físicas, beneficiando os diversos campi e atingindo diretamente 12 mil alunos da instituição. Sendo que, no primeiro ano de mandato, em 2019, por conta de contingenciamento do Governo Federal, a emenda baixou para R$ 17 milhões, porém o Governo do Estado garantiu R$ 3 milhões de recursos próprios para manter o valor inicial. A governadora também destacou o simbolismo que caracterizou a transição do maior cargo da universidade, em que pela primeira vez uma mulher passou o título de Reitora para outra mulher, a quarta na história desde que foi criada, “ambas filhas da Uern, pois tiveram aqui a sua formação inicial”, enalteceu.
TRANSIÇÃO
A reitora em exercício Fátima Raquel Fátima Raquel Rosado Morais foi bastante elogiada pela governadora e pela professora homenageada Maria Ivonete Soares Coelho, pela forma exemplar com que conduziu a instituição diante da devastação causada pela covid-19. “É um prazer estar com pessoas neste teatro. Só Deus sabe como foi difícil no ano passado. Impossível não olhar para vocês e não me emocionar. Daqui onde estou, o vazio da plateia era impactante. Chegamos a setembro de 2020 com o coração dilacerado, vendo tantas pessoas queridas indo embora”, lamentou. Para se ter uma ideia sobre o quanto a pandemia atingiu em cheio a Uern, a primeira vítima do coronavírus no Rio Grande do Norte foi o professor Luiz de Souza, do quadro de docentes da instituição.
FONTE: DEFATO